Barba e foliculite: o que você precisa saber

Coceira na barba com inflamação, irritação na pele, espinhas ‘esquisitas’ e até pus? Pode ser foliculite. Geralmente causado por bactérias, esse problema pode tornar-se grave para a saúde da sua pele e até resultar na perda de pelos. Saiba como prevenir.

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Parece que surgiu ‘do nada’. Você foi ao barbeiro que te recomendaram, na barbearia mais badalada do bairro, e saiu de lá com sua barba desenhada, bigode fininho e bem delineado e um cavanhaque perfeito.

No dia seguinte, porém, começou uma coceira sem piedade com irritação na pele e umas ‘bolinhas’ que parecem espinhas e ficam bem ali, onde nascem os pelos… Rapaz, pode ser foliculite! Um problema que nem é tão raro assim e precisa ser tratado com atenção.

Qual a função do folículo piloso?

A foliculite tem esse nome porque é uma inflamação que acomete o folículo piloso. O nome pode parecer complicado, mas a explicação é simples: trata-se da estrutura da sua pele que é capaz de produzir e sustentar o pelo.

Como nosso corpo tem pelos em vários lugares, qualquer região onde eles estão pode ser atingida pela foliculite.

Os lugares mais vulneráveis são os com pelos mais densos, ou que ficam mais abafados ou têm pele mais sensível, são úmidos e/ou sofrem constantes atritos ou agressões, como, por exemplo, as axilas; e a região da barba no homem e da virilha nas mulheres, por causa do barbear e da depilação, respectivamente.

O folículo piloso tem origem na derme, que é a camada intermediária da pele. A derme fica logo abaixo da camada mais externa – a epiderme –, cuja parte superior é a pele que a gente consegue ver a olho nu, cobrindo todo o corpo.

Uma das diferenças entre a derme e a epiderme é que a primeira é nutrida por vasos sanguíneos, e a segunda, não. Por isso, normalmente não sangramos, por exemplo, ao retirarmos uma cutícula de unha, porque só a epiderme é atingida… mas, se nos cortamos, sangramos porque a lesão chegou até à derme.

O fluxo de sangue na derme é importante para alimentar uma série de estruturas que se encontram nessa camada, como as glândula sebáceas, que produzem o ‘óleo’ da pele (o nome técnico é sebo); as glândulas sudoríparas, que produzem o suor; e o tal do folículo piloso, cuja estrutura você vê no esquema abaixo.

Desenho esquemático mostrando o folículo piloso e estruturas adjacentes da derme: glândula sudorípara écrina, ducto sudoríparo écrino, o folículo em si, glândula sebácea, músculo eretor do pelo, papila dérmica, poro sudoríparo e haste do pelo.

Imagem: Posible2006 | Wikimedia Commons, sob licença CC BY-SA 3.0. Adaptado por João Marinho.

Falando de uma maneira muito simplificada, o folículo piloso nada mais é que uma espécie de ‘bolsa’ em torno do pelo que funciona como se fosse um ‘berço’ para ele – e, na verdade, é exatamente isso: o pelo só existe porque é produzido lá no fundo do folículo, em uma parte chamada bulbo.

Alimentadas pela nutrição sanguínea da derme, as células que dão origem ao pelo se multiplicam no bulbo e formam aquilo que a gente costuma chamar ‘raiz do pelo’. Elas vão-se sobrepondo umas às outras, fazendo o pelo crescer e irromper para fora.

Todo esse processo conta com auxílios. Um deles vem das glândulas sebáceas conectadas ao folículo piloso. Quando, além do folículo piloso, levamos essas glândulas em consideração, o sistema completo denomina-se folículo pilossebáceo.

O que causa foliculite?

Foto de homem branco com barba longa e frisada, camiseta branca e boné cinza fazendo careta em frente à câmera. A imagem faz menção ao desconforto causado pela foliculite.

Foto: Erik McLean | Unsplash.

A principal causa da inflamação do folículo piloso é a infecção por microrganismos, especialmente uma bactéria chamada Staphylococcus aureus, embora fungos e vírus também possam ser a causa.

A S. aureus é comum na pele – mas quando entra no corpo por causa de ferimentos e cortes, pode causar problemas.

Daí, vem a relação entre foliculite na barba e o barbear, que são nosso foco aqui.

Como fazer a barba causa atrito na pele e, às vezes, microferimentos (só lembrar dos pontinhos de sangue…), a própria lâmina de barbear pode levar essas bactérias – ou outros microrganismos – para dentro.

Uma vez lá, eles podem multiplicar-se e causar a inflamação do folículo – e a intensidade dos sintomas vai depender da profundidade da foliculite. 

Sim, porque, como o folículo piloso é uma estrutura que vem lá da derme e atravessa as camadas para levar o pelo para fora, a infecção pode instalar-se em diferentes regiões dele.

Quais os tipos de foliculite?

Na maioria dos casos, a foliculite na barba é superficial, ou seja, a inflamação desencadeada pela infecção dos microrganismos fica restrita às partes superiores e mais externas do folículo.

A pele em volta fica, então, avermelhada e há uma sensação de pele sensível, com um certo incômodo. Finalmente, surge uma ‘bolinha’ que coça muito, parece uma espinha e pode conter um ponto branco ou amarelado (o pus).

Nesse tipo de foliculite superficial, é comum ver o pelo no centro da ‘bolinha’, que, muitas vezes, está encravado.

Pelo encravado, por sinal, é realmente um facilitador para a infecção que leva à foliculite, mas não é determinante: o problema pode aparecer também em um pelo que rompeu a pele e não aparecer num encravado. Por isso, é importante observar o problema de perto.

Na foliculite profunda, a inflamação desce até às camadas mais internas da pele e do folículo piloso: pega todo o folículo e chega até ao bulbo.

Nesse caso, as áreas avermelhadas ficam bem maiores, as lesões podem ser altas com pus amarelado e um nódulo duro no centro delas, e, algumas vezes, há dor intensa, coceira e inchaço.

Essa foliculite pode deixar cicatrizes na pele e até levar à perda do folículo, deixando aquele ponto da barba sem pelos.

Foto de pedras e cascalhos de várias tonalidades de cinza. A imagem faz menção à crostas e placas que podem ocorrer nos casos de sicose da barba e outras foliculites profundas.

Foto: Mickey O’Neil | Unsplash.

Para os homens, barbados ou não, a sicose da barba, ou simplesmente sicose, é uma das maiores inimigas, por ser um tipo de foliculite profunda.

Ela também recebe nomes populares, como ‘coceira do barbeiro’, e é causada, muitas vezes, pelos mesmos microrganismos das superficiais, como as Staphylococcus.

A sicose aparece principalmente na região do bigode e cavanhaque (lábio superior e queixo) e mandíbula.

As lesões podem acumular-se e gerar crostas e placas. 

O próprio ato de barbear pode piorar o problema, espalhando as bactérias pela região, até o pescoço e a nuca. Cruzes.

Por fim, vale mencionar a pseudofoliculite da barba. Nesse caso, a inflamação é causada apenas por pelos encravados, sem a contribuição de microrganismos.

Os pelos que foram raspados ao fazer a barba se curvam e voltam para dentro da pele, depois inflamando e coçando. É mais comum em homens negros.

O site da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) tem um resumo importante sobre os tipos de foliculite.

O que fazer para acabar com a foliculite?

Homem pardo, de traços indianos, cabelos lisos e negros, barba desenhada de tamanho médio, usando camisa social branca, suspensório azul-escuro e calça social cinza com as mãos no cavanhaque, como se fazendo um olhar questionador. A imagem alude às questões sobre como acabar com a foliculite.

Foto: Hamid Tajik | Unsplash.

Casos de foliculite na barba requerem, claro, uma avaliação do dermatologista, que vai verificar o melhor tratamento e atacar o responsável pelo problema.

Apenas a inspeção visual pelo especialista já pode fechar o diagnóstico de foliculite. Algumas vezes, as secreções também são enviadas para análise em laboratório.

Como a causa mais comum é a infecção pela Staphylococcus aureus e o tipo mais recorrente é a foliculite superficial, muitas vezes, o tratamento vai incluir algum tipo de antibiótico.

O remédio poderá ser administrado de forma tópica, ou seja, sobre a pele – não raro, formulado como sabonete.

Antibióticos também poderão funcionar contra outras ‘vilãs’ muito comuns que também causam a foliculite: as pseudomonas, outro tipo de bactérias que podem ocorrer, por exemplo, em banheiras e piscinas com tratamento e asseio inadequados. Cuidado com o calor no verão…

No entanto, como fungos podem ser a causa – os do gênero Malassezia, que também colonizam normalmente a pele, por exemplo – ou outros agentes, a avaliação médica é mesmo necessária.

Além disso, o acompanhamento e tratamento profissional com o dermatologista são fundamentais para evitar as complicações das foliculites profundas.

Como prevenir a foliculite?

Homem negro de cabelos cacheados médios e raspados nas laterais, barba desenhada curta, camisa vermelha sem mangas. lava o rosto frente ao espelho (vê-se o creme ainda na face). A imagem alude aos cuidados com a pele para evitar foliculite.

Foto: Curology | Unsplash.

Dá para adotar estratégias que podem ajudar a prevenir a foliculite:

    • Atentar para o skincare: manter a pele limpa, seca, hidratada e sem irritações, ferimentos ou escoriações;
    • Cuidar bem das lâminas de barbear: atentar para o acondicionamento, a fim de evitar contaminações;
  • Evitar lâminas que estiverem gastas ou cegas ou forem de má qualidade, que tendem a causar mais ferimentos na pele;
  • Tomar cuidado ao barbear, para evitar irritação na pele, cortes e promover o deslizar suave das lâminas;
  • Usar produtos próprios para barba e de maneira correta ao barbear-se;
  • Mudar hábitos que tendem a deixar a pele ressecada, o que pode contribuir para as escoriações. Até o uso de antissépticos na pele precisa ser feito de maneira correta: o excesso deixa a pele seca;
  • Quem é barbudo, fazer a manutenção da barba e cuidar da higiene correta dela. De novo, use os produtos adequados e mantenha sua barba saudável;
  • Adote estratégias que evitam pelo encravado. Quem tem tendência ao problema pode tirar proveito da esfoliação e deve evitar escanhoar, ou seja, passar o aparelho de barba no sentido contrário ao crescimento do pelo. Em alguns casos, um barbeador elétrico também pode compor o arsenal;
  • Fique de olho onde você frequenta. Isso vai das piscinas ao barbeiro; 
  • Vá ao dermatologista com mais frequência. Prevenir problemas de pele é bem melhor que tratar deles depois de instalados.

Confira abaixo outras dicas do Dr. Renato Lima, dermatologista parceiro da Dr. JONES. Deslize a imagem para a esquerda.

 

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Foto/Destaque: Diva Plavalaguna | Pexels.